Atraso, falta de justificativa e 'Princesa nômade'. O que há com o Gilbertão?

O estádio Gilberto Mestrinho precisava de um gramado de qualidade, banheiros mais decentes, iluminação, e um ‘tapa’ no visual. “Vai levar 150 dias”, disseram. “Vai ficar bonito”, disseram. Disseram em dezembro de 2013. Já levaram uns 300 e tantos dias. E vai levar mais uns 180, admitiram. Nessas contas, no cabo de guerra entre Princesa do Solimões, administração do estádio, Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinfra), construtora Vale do Rio Verde e Prefeitura de Manacapuru, quem sai perdendo é o pobre do Gilbertão, que anda ainda mais maltratado.

O cenário é de carcaça. Em um ano, apenas parte do gramado novo foi implantado – além de outros reparos técnicos - e a impressão de “fim de obra” é realidade distante. A torcida chama atenção para a causa, reclama do descaso com o único estádio do município, e gasta boa grana para ir e voltar de Manaus (84 km de distância de Manacapuru) toda vez que o Tubarão entra em campo. Não está fácil, e a promessa de melhora é quase utópica, considerando que o calendário do time começa no dia 08 de fevereiro.

A grande pergunta, sem pompa, é: Afinal, o que acontece no Gilbertão? A questão, claro, se ramifica. A que ‘pé’ está a obra? Qual justifica para o atraso descomedido? O que está pronto? O que ainda precisa de reparo? Quando a obra será entregue? O GloboEsporte.com conversou com o administrador do estádio, com o engenheiro responsável pela obra, e com a Seinfra. Entenda, por tópicos, o cenário no estádio manacapuruense.

EM QUE 'PÉ' ESTÁ A OBRA?
Sandomar Gusmão, responsável pela administração do estádio, tinha a resposta na ponta da língua: “preocupante”. Justo. Segundo ele, as obras estão paradas – informação que o engenheiro nega. De forma bem clara, Sandomar relata o visual do estádio.

- Retiraram os alambrados, os assentos, as louças sanitárias... A situação está realmente feia. É como se tivessem deixado pior do que já estava. Depenaram o Gilbertão. Tem muita coisa a ser feita. Muita coisa! Deixaram o estádio depenado. Agora só temos o gramado, imagina?! É realmente preocupante a situação, mas se houver o interesse, é reparável, claro. 

ATRASOU POR QUÊ?
A pergunta, assim como todas as outras, foi feita aos três ‘responsáveis’. Sincero e bastante solícito, o engenheiro da empresa Vale do Rio Verde, Adnan Zureiq, explicou o processo de “divisão de trabalho” e atribuiu boa parte do atraso às chuvas que assolaram a região nos últimos meses. Compreensível, mas ainda é pouco. A Secretaria de Estado de Infraestrutura, ao contrário do engenheiro, foi menos solícita. Por e-mail, o órgão – através da assessoria de comunicação – sintetizou o caso.

“Dada à necessidade de readequação do projeto para melhoria da obra, a Secretaria de Estado de Infraestrutura concedeu um aditivo de prazo de mais 180 dias, razão pela qual a obra estará sendo entregue em junho de 2015", relata o e-mail.

O QUE ESTÁ PRONTO?
- A obra está caminhando bem. Estamos quase para terminar o que temos na nossa planilha, que é o que ficou definido que faríamos. Tudo está em período de finalização. O que estava na nossa planilha? Instalação do novo gramado, drenagem do campo, reforma do vestiário, instalação das quatro torres de iluminação que vieram da Colina e a construção de uma subestação de energia. Tudo isso, repito, sob nossa responsabilidade e traçado em nossa planilha, está em fase de finalização – explicou o engenheiro, Adnan.

O QUE FALTA?
- Os itens restantes, que precisam de reforma e que estão fora da nossa planilha, dependem da liberação de verda da secretaria (Seinfra). Uma vez liberada, nós partiremos para outros itens que precisam de reparo – completou Adnan.

Sandomar Gusmão vai além. O administrador, sem papas na língua, fala sobre o péssimo estado dos vestiários e banheiros. Destaca a urgente necessidade de instalação do reservatório de água para manter o gramado – que, mesmo novo, já chegou a queimar por falta de irrigação.

- Falta coisa demais. É lastimável a situação que está o estádio. Precisamos de tantas coisas para dar a obra como ‘concluída’, que fizemos uma reunião, com o prefeito (de Manacapuru), os representantes da construtora, gente do Princesa e alguns políticos da cidade. Dividimos responsabilidades para tentar melhorar a situação. A prefeitura, por exemplo, se responsabilizou por reinstalar os alambrados e retirar todo o entulho que está jogado lá. Eu vou entrar em contato com o corpo de bombeiros e pedir ajuda de um caminhão pipa para regar o gramado. Vamos assim, esperando uma ação para resolver essa bagunça que virou a obra – concluiu o administrador.

QUANDO SAI?
Segundo a Seinfra, conforme a ‘nota’ citada acima, a obra será entregue em junho de 2015. É um atraso de um ano, se considerado que inicialmente a reforma duraria 150 dias e teve início em dezembro de 2013. O engenheiro responsável foi um pouco além e comentou a ausência de um prazo.

- É muito difícil traçar um prazo, uma vez que não temos como saber quando receberemos a verba para dar início a novos trabalhos. O cenário que está lá hoje, o cenário que vemos de “inacabado”, é porque não é de nosso encargo as outras reformas. Não está na nossa planilha ainda. Por isso, arriscar um prazo seria irresponsável.

QUEM PERDE...
Problema em obras públicas chega a ser tema clichê. Acontece, e muito. Estádio sempre atrasa, é verdade. No fim, o grande prejudicado é o Princesa do Solimões, o nômade do Amazonas. O time sentiu na pele a distância do estádio durante a temporada de 2014 e, com mando de campo improvisado em estádios na capital amazonense ou em municípios próximos, teve desempenho abaixo do esperado. 

Como a previsão é para junho, e o calendário amazonense carece de extensão e planejamento, o clube corre o risco de viver mais um ano nômade. O diretor de futebol do Tubarão, no entanto, prefere manter o otimismo. A Copa Verde, que começa em fevereiro, vai ser lá, no Gilbertão, com a torcida a favor, no melhor estilo “festa princesiana”. Ele garante. Ou prefere garantir.

- Certeza que vamos disputar a Copa Verde aqui. O primeiro jogo da competição deve ser em fevereiro, no dia 8, e o retorno só depois de uma semana, no dia 15. A gente tem certeza que o estádio vai ter condições de receber a partida e o torcedor vai estar prestigiando a equipe aqui no Gilberto Mestrinho - disse Maddy, que ainda segue na montagem do plantel para a temporada 2015. 

A Federação Amazonense de Futebol também conta com o estádio para o Campeonato Estadual. Tanto que marcou o clássico entre Princesa e Operário, dois times de Manacapuru, para fazerem a reinauguração do estádio. Vale ressaltar que, segundo a tabela, os dois times mandarão jogos no local.

Fonte: globoesporte.com

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