Corpo tem superpoderes que só surgem em certos casos: aguenta frio e até vira bússola


Acredite: você é muito mais forte do que imagina. Não se trata de nenhum tipo de reforço de auto-ajuda, é um fato científico. O ser humano em geral tem muito mais força e resistência do que aparenta, uma vez que no estilo de vida contemporâneo muitas dessas habilidades não são exigidas. Quando chega ao limite, o homo sapiens é capaz de despertar seus “poderes” mais impressionantes.

Esses “super poderes” humanos podem se expressar de diversas formas. Podem acontecer de forma consciente, como nos casos dos recordistas mundiais Kilian Jornet, que conseguiu escalar os quase 9 km do Monte Everest em apenas 26 horas, e Wim Hof, capaz de mergulhar no gelo por 1 hora e 8 minutos, sendo que um ser humano médio pode suportar no máximo 10 minutos - ele jura que é capaz de controlar o próprio sistema imunológico.


Mas é ainda mais impressionante quando um indivíduo age sem qualquer preparo prévio. Um exemplo disso é a história do garoto norte-americano J.T. Parker, que aos oito anos de idade ergueu um carro de 1.300 quilos para salvar o pai, que estava sendo esmagado pelo veículo. J.T. tem menos de 23 quilos.

Estes fenômenos esporádicos são o resultado de uma complexa organização de nosso corpo com o objetivo de garantir a própria sobrevivência e a de pessoas amadas: envolve genética, neurotransmissores, sentimentos, emoções, sistema nervoso, coordenação motora e músculos.
Superpoderes estão "escondidos" no DNA

Está gravada em nossos genes e no de todos seres vivos a luta pela sobrevivência e pela manutenção da espécie. É claro que no ser humano, dotado de consciência, este componente genético pode se diluir entre outros fatores, mas ainda assim está em todos nós.

KONSTANTIN FARAKTINOV/SHUTTERSTOCK

“Hoje em dia não vivemos em situação de risco constante, mas quando enfrentamos alguma, nosso cérebro se reorganiza para que o corpo inteiro possa agir da melhor forma possível”, explica a psicóloga Sabrina Gonzales. “E isso está gravado no nosso gene, que ainda tem resquícios desse período de risco”, completa.

“Quando o indivíduo está em situação de muito estresse, o cérebro se põe pronto para a luta e o objetivo é claro: a sobrevivência”, analisa o neurologista José Geraldo Speciali, da Academia Brasileira de Neurologia. “Tem algo no cérebro que nos condiciona a realizações quase animais. Isso fica escondido, mas, quando surge, pessoas que não sabem nadar nadam ou são capazes de mobilizar força muscular extrema”.
O que dispara esse gatilho?

O, digamos, gene da sobrevivência está em todos nós, mas se manifesta de diversos modos e intensidades. Aí é uma roleta russa genética, fisiológica e emocional impossível de prever - pelo menos até aqui, ciência e medicina não têm as ferramentas suficientes para assertivamente afirmar o gatilho que dispara o potencial máximo dos seres humanos.

A este impulso que mobiliza cérebro e músculos para reagirem diante de situações extremas usa-se o conceito de motivação. “Independente do que seja, esta motivação é ligada à questão da sobrevivência, seja a sua, de seus filhos ou de pais”, acredita Sabrina.

“A memória ancestral fica, é resíduo de nossas espécies anteriores. Se coloca externa quando há uma extrema motivação”, contextualiza José Geraldo. Ele explica que essa motivação surge até em bebês recém-nascidos: quando estão na água, conseguem nadar, ou pelo menos se debater a ponto de garantir sua sobrevivência.


O que acontece no cérebro?
Quando exposto ao risco extremo, o cérebro entra em estado de alerta total. E mais que isso, atinge uma condição na qual mobiliza todas suas atividades para um foco específico e, assim, o órgão ignora por algum momento qualquer sensação de dor, frio, calor, medo, indecisão… Ele age exclusivamente na ação que aparentemente será mais efetiva para garantir sua vida.

Uma quantidade enorme de neurotransmissores é liberada nestes episódios, sobretudo a endorfina e a adrenalina. Juntas são capazes, por um lado, de mobilizar os músculos e, por outro, de proteger da dor - são quase um analgésico e um doping natural. São ativadas partes do cérebro como o córtex frontal, a área pré-frontal, a supraorbital e o sistema límbico, que envolve o hipotálamo.

“É como se o cérebro se reprogramasse em alguns segundos”, explica o neurologista. “Na hora que o evento acaba, ele toma consciência do corpo novamente e, então, vem a informação da dor, frio, medo, entre outras”, completa.

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Mente passa por quatro estágios psicológicos
Do ponto de vista da psicologia, também acontece uma montanha russa de informações na cabeça de quem atinge este estágio de ações extra-humanas. Em frações de segundo, a mente humana passa por até quatro estágios psicológicos.

A psicóloga Sabrina Gonzalez explica que a primeira reação é sempre a negação, que é geralmente seguida pela aceitação. Da aceitação o passo seguinte é instantâneo: a ansiedade. “Este é um momento importante, porque é quando decidimos a ação. Neste estágio, ou evoluímos para agir, ou para nos paralisar pelo medo”, informa.

Se tudo der certo, da ansiedade seguimos para a mobilização. É quando a cabeça manda outros órgãos e membros agirem e mobiliza músculos e nervos para potencializar a ação do corpo.
Músculos: como agem nos “superpoderes” humanos

Quando o cérebro libera endorfina e adrenalina, na mesma hora os músculos são ativados. A reação fisiológica é imediata e o organismo recruta mais fibras musculares para executar uma determinada ação. Quanto mais difícil a missão, mais fibras são ativadas - e é isso que possibilita aguentar temperaturas intensas ou mover objetos muito pesados.


“Os neurotransmissores mobilizam fibras que não usamos o tempo todo, cada organismo tem uma reserva muscular para tal. O quanto essas fibras podem ser mobilizada que vai determinar a efetividade da ação”, explica o médico fisiologista Ricardo Munir Nahas. E que fique claro: não há mudança na massa muscular, apenas ativação de fibras musculares.

Isso significa que você tem em seu corpo milhares de fibras musculares inativas agora. Parte delas age quando você tecla no computador ou celular, outras quando você sobe uma escada e mais outra porção delas se você levanta 100 quilos no supino em sua academia. E, claro, em cada situação elas são ativadas em intensidade distintas.

E qual o limite de ação dessas fibras? Depende. “Cada indivíduo tem o próprio limite e é difícil determinar. Pode ser que alguém consiga levantar um peso enorme na academia, mas ter dificuldade em mobilizar a mesma carga em forma de pedra, por exemplo”, esclarece o fisiologista.

Situações como a do menino de oito anos que levantou mais de uma tonelada abrem precedente para supor que os músculos humanos podem ser mais fortes do que imaginamos - e usamos - atualmente.
Superpoderes que conhecemos
Frio e altitude

A reação fisiológica para reagir ao frio extremo e a altitudes elevadas também passa pelos músculos. O médico Ricardo Nahas explica que por mais que haja exemplos de pessoas não-atléticas que atinjam tais “superpoderes”, quanto melhor preparado fisicamente, maiores são as chances deles surgirem. “Todo mundo tem um limite, mas se você é mais atlético, certamente seu limite é maior”, resume.

Quando há alteração de temperatura e pressão atmosférica, a capacidade de produção e retenção de energia do músculo é fundamental para o sucesso da ação. O músculo tende a se contrair até o ponto de gerar lesões ou cãibras. A não ser que seu organismo esteja suficientemente condicionado para aguentar o impacto externo.


Força descomunal
É difícil ter precisão sobre o quanto algumas pessoas podem erguer com a força de seus músculos apenas. E quando falamos de situações extremas, é muito improvável que haja qualquer tipo de medição sobre o peso.

Tratemos dos "mais fortes" oficiais. Anualmente é realizada a competição World’s Strongest Man (Homem mais forte do mundo) que tem provas para medir a força de seus competidores. Entre os marcos mais impressionantes, está o recorde do canadense Kevin Fast: ele arrastou um avião de 188 toneladas por 8,8 metros exclusivamente com a força de seu corpo.


Pulmão anfíbio
Se você fizer um teste para registrar quanto tempo é capaz de ficar sem respirar, vai ser difícil passar de 2 minutos. É o tempo médio para uma pessoa sem treinamento. Mas um rapaz consegue ficar quase dez vezes esse tempo sem qualquer entrada de oxigênio em seu pulmão.

Desde 2010, o recorde mundial de apneia é do suíço Peter Colat, que conseguiu ficar 19 minutos e 21 segundos mergulhado em um tanque de água sem respirar.

Mas, já sabe, né? Nada de tentar isso em casa.


Bússola interna
Todos nós temos um GPS genético. Essa tese ainda não é consenso na ciência, mas uma pesquisa realizada pela Universidade de Massachusetts em 2011 chegou à conclusão que a espécie homo sapiens e as moscas têm um gene em comum: aquele que determina a geolocalização espacial, via uma espécie de "bússola interna".

Seria uma espécie de magnetolocalização, que não envolve a visão. Essa era uma habilidade importante no período da expansão marítima, mas acredita-se que nos últimos séculos a usamos cada vez menos.
Sonar humano

A história de Ben Underwood é a mais famosa a respeito. O jovem foi afligido por um tumor nos olhos aos três anos e teve que remover os órgãos. Desenvolveu, então, uma habilidade rara: um sistema de ecolocalização baseado nas ondas sonoras dos objetos.

Ao ouvir qualquer barulho - segundo os relatos de Ben, qualquer barulho mesmo, até os imperceptíveis para pessoas comuns - ele era capaz de identificar a origem das ondas sonoras. Trata-se de um modelo conhecido como sonar ativo, similar àquele usado por golfinhos.


Eu posso treinar meus “superpoderes”?
Em tese, sim, pode. É o que promete o já citado nessa matéria Wim Hof. O holandês de 58 anos é chamado mundo afora de “super humano” e de “homem de gelo” por conta de seus desafios. Ele garante ter criado um método para condicionar seu cérebro para suportar qualquer tipo de adversidade e controlar inclusive seu sistema imunológico. A teoria de Hof está em seus dois livros, “Becoming the Iceman” e “The Way of the Iceman”, ambos sem tradução em português.

Na neurociência, já há elementos que dão razão para quem acredita que podemos realizar ações extraordinárias ao controlarmos nossa mente. O neurologista José Geraldo Speciali afirma que é possível ensinar a “sentir menos dor”, a partir de um trabalho interdisciplinar entre médicos, psiquiatras, psicólogos e fisiologistas - e até guias motivacionais ou espirituais.


Um bom começo para se preparar caso venha a precisar de superpoderes algum dia é a meditação. “É bom que todos nós façamos alguns minutos de meditação por dia”, recomenda o médico. “É uma prática já reconhecida pela ciência, que pode, digamos, reprogramar o cérebro e deixá-lo mais alerta”, explica.

Fonte: vix.com/

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